Transportes e Rio de Janeiro

Para Aldo Rossi (1995,p.115): "O conjunto urbano é dividido de acordo com três funções principais: A residencia, as atividades fixas, o tráfego."

Sobre a cidade, falamos aqui a respeito da instantaneidade dos fluxos de informação e da possibilidade de utilizá-los como arma de luta e resistencia; hoje falaremos um pouco a respeito do tráfego da cidade formal. Para tal utilizaremos como exemplo a cidade do Rio de Janeiro.


O sistema de transportes do Rio de Janeiro é hegemonicamente rodoviarista, embora possua o trem como o responsável pela consolidação do subúrbio, e o metrô conectando a zona norte a zona sul, estes não dão vazão à quantidade de pessoas que precisam se deslocar diariamenteno Rio, seja por questões de defasagem de transporte para o contingente de usuários, seja pela falta de conexões de toda a cidade com qualidade , sendo necessário a complementação com o uso do ônibus.

caxias freguesia.jpgfoto do demônio verde por André Neves http://onibuslegal.fotopages.com/?entry=1457957 - extrema velocidade, imprudência, não parar nos pontos são algumas das características comuns a este ônibus perito em acidentes fantásticos.


Mas para iniciarmos o pensamento sobre o tráfego, vamos analisá-lo dentro de uma relação fundamental da vida urbana: MORAR - TRABALHAR; precisamos ter em mente que no sistema das cidades a moradia está intimamente ligada ao trabalho; razão que por muitas vezes construiu-se na história vilas operárias por exemplo, tal relação porém se opera de forma nova em uma sociedade que se constitui com a alta flexibilização do trabalho por um lado, e da especulação imobiliária por outro. O mercado nos pões em uma situação de : morarmos onde nos é possível morar e trabalharmos no emprego que conseguirmos, isto é a relação entre moradia e trabalho não é contemplada, e neste momento o transporte tornase o elemento essencial de debate para a cidade.

" O transporte absolutamente precário dos primeiros tempos obrigava essas mulheres a dormirem em seus empregos, saindo apenas nas folgas quinzenais" Gonçalves, Ana Lúcia(2008,p.43)

A centralização da cidade e sua estratificação, que hierarquiza o espaço urbano do Rio de forma tal que morar próximo as melhores opções de trabalho (e infra-estrutura) é extremamente caro, deixando assim os territórios mais afastados para a grande parcela da população mais pobre (a cidade segue a lógica do sistema capitalista) - excluí deste estudo a população que busca a solução de moradia na informalidade, para fins de debate apenas sobre o problema do transporte que a estrutura da cidade formal proporciona-


Temos então uma população com maior renda morando próximo a centralidade de trabalho, tendo acesso a uma gama de bens e serviços e por outro lado uma população com menos recursos morando mais afastado do centro urbano.


A primeira questão de transporte a abordar é: Um morador de Marechal Hermes, bairro do subúrbio carioca servido por trem, demora 40 minutos para chegar a central do brasil de trem, ou mais de 1 hora e 30 minutos ou mais se for de ônibus, gastando em média R$4,40 de passagem por dia, um morador do bairro ao lado, já gastaria R$8,80 por dia devido a necessidade de pegar um ônibus até o trem, ambos ao chegar na central do brasil, provavelmente precisarão de outro ônibus para chegar a outros pontos do centro da cidade ou zona sul. Temos então que o gasto de transporte giraria entre R$88,00 e R$200,00 por mês. Na mesma lógica, uma pessoa que dependa de ônibus e metrô gasta R$10,00 por dia, média de R$ 200,00 por mês.




O ponto principal porém não é apenas o gasto, creio que o foco é o tempo da viagem. Um ônibus saindo do centro da cidade até Campo Grande demora aproximadamente 2 horas e 30 minutos de viagem em média; e é neste ponto que temos a grande diferença . 2:30 +2:30 = 5:00 horas - 5 horas diárias são gastas em transporte, logo um cidadão de Campo Grande que trabalha 8 horas diárias, na verdade despende 13 horas diárias da vida para o trabalho, quando um mesmo cidadão que more na tijuca e ocupe o mesmo trabalho gastaria 1 hora diária em transporte logo 9 horas diarias dedicado a ir trabalhar e voltar. A vida do trabalhador, devido a distância, acaba se tornando mais onerosa por estar sob sistemas de exploração "sutis".


Por uma análise não muito aprofundada podemos perceber que o pior problema dos transportes não está relacionado apenas às péssimas condições de manutenção, mas na forma como estão organizados na cidade, promovendo um appartheid urbano.

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2 Comentários

  1. Eu utilizo uma linha dessa empresa... Esse é o coletivo do inferno! Por isso toda vez que entro num, reso para os meus deuses olímpicos, para que nada exista após à morte e estas trevas.... Eu ainda não chego vivo ao meu destino, por conta dos pirados que pilotam esses expressos... Belo texto e linda foto, apesar da empresa!

    ¡DEMÔNIO VERDE!

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  2. pouco tempo depois de eu ter feito isso a passagem aumentou para 2,35 então, onde antes lia-se 88,00 reais agora lemos 94,00.

    detalhe a diária de gasto em transporte para quem precisava de um onibus e metrô ou trem, ultrapassou 10 reais

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