Golpe de Estado


Golpe de Estado
Kamilla Ventura

Estou aqui! Nesta página de blog – buscando um ato! A escita é o meu ato. Por ser ato, a escrita GRITA quando a palavra começa e termina nela própria. A escrita SUFOCA se não houver uma exclamação sequer de comprometimento social. E ela te PROVA - por ‘A’ mais ‘B’ - que palavras sem ato só servem para mudar a folha da escrivaninha para o armário.
Escrevo neste blog, com minhas mãos e pernas. Pernas, ainda curtas embora não queiram ser, em sinergia com minhas mãos, ainda mal cicatrizadas das farpas com que me dediquei durante a graduação, ao Movimento Estudantil. Farpas sim! Farpas de vomitar uma avalanche de falas que não alcançam quem tem que alcançar. Pois estes estão com os ouvidos entupidos de cera. Mas a culpa não é deles, decerto que alguns realmente não se importam com as mazelas sociais e ligam aquele botãozinho tão famoso hoje em dia chamado: “foda-se!”.
Mas, a minha problemática não é essa. E sim com o Estado. O estado das coisas estarem sendo a mais completa indiferença, a mais completa ironia envoltas pela atrocidade do conformismo. Este estado dói em mim como o peso da Eternidade, aquela que dorme e por isso mesmo, nunca morre.
Esse golpe genial do Estado nos entope de uma grande cera conjunta, nojenta e amarela. O Golpe de Cera te veda com um pano todos os dias pra brincar de cabra-cega e sussurra em teus ouvidos, repetidamente: “Compre, veja, use todas essas bizarrices tecnológicas antes que elas saiam de moda. Ame, mas não ame muito porque atrapalha. Divirta-se, faça sexo. Escute músicas da moda, Bossa Nova, Tropicalismo? Coisa de intelectual brocha.
Escrevo agora esbugalhada da pós-modernidade. Escrevo mesmo que ninguém me leia e prefira jogar netCartas ou ver babaquices no Youtube; Escrevo, escrevo... infelizmente apenas para você - que deve ser alguém interessado no assunto de antemão - ou algum conhecido meu que eu pedi “por favor, leia pra ver se está bom”. Escrevo, por fim, sobre a prisão de habitar no Brasil sem ter a esperança de que consigamos, com palavras-atos e vozes, sermos lidos, entendidos. Melhor parar, pois já estou agora agonizando sobre o marasmo.
Pra finalizar, deixo a prece do Estado de Cera:
(Todos juntos em um coro só)
Feche os olhos, os ouvidos, a boca perante os problemas sociais. (Repita duas vezes)
Use as mãos para levar suas preces aos céus desejando estar empregado ao se formar. (Acredite!)
Pode ir para outro país se quiser, as coisas aqui não andam muito bem, não é?! Não precisa escrever não! Nem voltar, pode ficar por lá.
Quando se sentir sozinho veja a novela! (Ligue a TV neste momento).
E por fim, meu filho, pense em mim, mas apenas pense! Vá, seja feliz. (É importante nesta parte, sentir-se livre).
(prece do Estado de Cera, Séc XXI, anonimato)
...

Postar um comentário

1 Comentários