Crítica - "Suprema Felicidade" de Arnaldo Jabor


"Suprema Felicidade” marca a volta de Arnaldo Jabor aos cinemas. Depois do clássico “eu sei que vou te amar”, ele dirige e roteiriza o filme que abriu o Festival do Rio. O longa conta a história de Paulinho, acompanhando a infância do menino até a maioridade e tendo como cenário o Rio Antigo; contando ainda com um elenco primoroso.
Marco Nanini é o avô de Paulinho, um sambista com a alma carioca, é músico e rende-nos no final do filme uma belíssima cena, em que ele, mesmo com Alzheimer, samba mostrando todo seu gingado. Mescla momentos de avô brincalhão, com o lado brando, carinhoso, confidente e ao mesmo tempo malandro e despudorado. Os espectadores não são acionados diretamente da doença dele, mas sim levam à conclusão à partir das ações e atitudes tomadas por ele e pela competência de Nanini.
Outra atuação de igual importância é de Dan Stulbach e Mariana Lima, os pais de Paulinho. A personagem de Dan é Marco, um aviador, mas tem seus planos vetados tendo que continuar a pilotar a mesma máquina. Já Mariana é Sofia, a mãe submissa ao mesmo tempo em que tenta se libertar das amarras da vida de dona de casa. No início do longa é visualizado o casal feliz, mas ao longo da trama essa felicidade e o amor vai se deteriorando; a partir das atitudes suspeitas do pai e das dúvidas quanto à sua fidelidade.
O problema nos personagens é que nenhum deles faz nada para melhorar ou acabar com a situação de submissão e desconfiança. A mãe acha que o marido tem uma amante e ele não tem a tal promoção que tanto sonhava. As desconfianças da mãe tem fundamentos, mas não podem ser comprovadas, permanecendo o filme inteiro reclamando sem assumir nenhuma atitude. Essas personagens não têm desfecho e suas tramas permanecem nessa mesmice. Pequenas atuações fazem toda a diferença, como João Miguel, um pipoqueiro que durante toda a trama está a relatar suas peripécias sexuais. Com piadas de duplo sentido ele consegue, apesar de seu personagem não ter conflito algum, imprimir uma interpretação longe da caricatura. Seu personagem é menos relevante do que sua interpretação.
Maria Flor e Tammy diCalafiori são mulheres pelas quais Paulinho se apaixona. A primeira é uma ‘médium’ que conversa com o espírito da mãe , já a segunda é uma stripper. O inacreditável é ver Tammy conseguir imprimir as angústias de uma mulher objeto, mas é outra personagem sem nenhuma relevância.
A direção do longa é um tanto irregular, intercalando momentos interessantes como o relacionamento entre avô e neto com outros nem um pouco importantes, como a cena em que Paulinho fita uma prostituta e ela o faz também, e, segundos depois ela é morta por um cliente.
O filme é uma grande alegoria de personagens cariocas, mas sua trama é arrastada e repetitiva. A montagem inicial intercalando vários momentos da vida de Paulinho não é mantida até o final dele. A trama percorre muitos anos, com muitas histórias de vários personagens, sua narrativa é um tanto tradicional e com muitas referências; mas a saga em si não tem justificativa plausível para a sua existência. O que parece é que Jabor parou no tempo e não acompanhou o crescimento do cinema nacional, fazendo filmes como antigamente. O hino de amor ao Rio ficou escrito nas entrelinhas.

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