O que há com o velho Rock and Roll ???

Sinto-me honrado por fazer minha estréia aqui no Linhas de Fuga. debater sempre é bom , falar de coisas que acontecem o tempo todo não é um previlégio , mas uma obrigação. ter amigos é uma dádiva, e através deles estou aqui. Agradeço a todo mundo.

Vamos começar não é mesmo?

Um dos assuntos que mais tenho lido na imprensa musical (nacional e gringa), e ouvido em conversas com músicos , é essa história de rock antigo e rock novo. Qual é o melhor? Existe o ultrapassado? Só vale o que está na moda ? Porque as bandas veteranas são, às vezes, contestadas? Pergunto-me se isso existe mesmo ou é mais um disfarce, um subterfúgio, para mascarar o que em minha opinião é claro e fora de qualquer dúvida, e é o que é relevante. Existe música boa e ruim. Ponto. Em se tratando de rock, esse cara maduro de 50 e poucos anos, anda rolando alguma polêmica em relação à qualidade da produção atual em comparação aos chamados dinossauros e lendas do rock. É claro que tudo se encaixa mais ou menos no contexto da sua época, e não poderia ser diferente. Muita gente abomina as bandas veteranas e outros desqualificam as novas. Por outro lado, pode ser "chique" gostar do que quase ninguém conhece e é novo.  
                                                                   

Quando os negros criaram as work songs, no fim do século 19, nos Estados Unidos, o rock começou a nascer. Na época o blues - pai e mãe do rock - brotou no Alabama, Mississipi, Louisiana e Geórgia, como um lamento dos escravos nas plantações de algodão para embalar suas intermináveis e sofridas jornadas de trabalho. As raízes africanas do rock são evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto nas letras que abordam, basicamente, religião, amor, sexo, traição e trabalho. O blues foi uma invenção genial dos escravos que, espertamente, proibidos pelos escravocratas de cantar suas canções tribais, misturaram seus ritmos a músicas folclóricas inglesas e francesas.
                                                            
Na maioria das vezes, durante décadas, desde os poderosos R&Bs e rocks de Little Richard e George Clinton, passando pelo blues rock britânico de John Mayall e Cream, até o engajamento psicodélico de bandas como Jefferson Airplane, Gratefull Dead e outros, e grupos hard e heavy como o Led Zeppelin, AC/DC e Ten Years After, o rock quase sempre esteve ligado a, digamos, um ideal, um conceito, uma estética, um grito. Os negros, que criaram o rock que os brancos se apropriaram, lutavam contra o preconceito. O movimento hippie, em meio ao LSD e a maconha, pela primeira vez usou o rock como expressão social impactante, atirando suas notas como uma metralhadora contra a guerra do Vietnam e em prol da paz - peace and love. Todo esse contexto rolou até os anos 1970. Uma época de grandes bandas e ótimos músicos, quando todo mundo tinha uma história pra contar e uma mensagem pra mandar adiante. Hendrix, a parte, foi gênio, como John Lennon. Um pelo que fez tecnicamente e espiritualmente, e o outro pela sua luta pela paz e por um mundo melhor.
                                                                    
                                                                                         


  Depois vieram os sintetizadores, o jazz rock, o new wave, o punk, rap, o gótico e tantas outras vertentes. As gravadoras deitaram e rolaram todo esse tempo, ganharam muito e hoje definham chafurdadas no MP3, no Youtube e no MySpace. Sempre existiram muitas bandas em todos os cantos do planeta, mas apenas uma pequena parte delas atingia visibilidade. As realmente boas, àquelas que tinham um bom time, como Deep Purple, The Clash, The Stooges, eteceteras, se deram bem em meio a tantas. A própria estrutura da mídia e dos meios de comunicação, era precária em comparação a hoje. Uma recente declaração do baixista do Purple, Roger Glover, em sua passagem pelo Brasil em março, dá uma noção da cena do rock hoje: "o Purple ajudou, nos anos 1960 e 1970, um período mágico, revolucionário, da música. Na época, havia uma grande profissionalização. Os grupos eram formados por músicos, as gravadoras tinham músicos em suas equipes. Hoje o mundo é outro. As gravadoras estão falidas, estão desaparecendo. Isso rola em grande parte porque as empresas foram comandadas por advogados e contadores. Além disso, a tecnologia se difundiu no mundo, fazendo com que proliferassem novas bandas, e que se tornasse fácil divulgar novas músicas. O que acontece é que o Purple sobreviveu a isso tudo, já estava na mente de todas as pessoas, um clássico, que se mantém atual. É algo que acontece também com o Zeppelin. Essas bandas fizeram algo mágico no passado e continuam queridas em todo o mundo, o que novos grupos não conseguem


  
 arctic monkeys
                                                            
 Ou seja, tem muita gente hoje fazendo porque é fácil, mas não sabe fazer direito. A questão não é se o Radiohead, o The Killers, o Interpol, o Arctic Monkeys, ou outras novas bandas são melhores dos que as veteranas. Isso é meio irrelevante quando se trata do que se ouviu na vida, nas referências que se tem, e o que se ouve. A partir de que ponto a pessoa começou a ouvir música? Porque, fora alguns virtuosos, mas repetitivos guitarristas como Satriani e Steve Vai (não tão novos assim) onde foram parar os bons músicos? O que eu tenho ouvido, e olha que é muita coisa nova, são grupos repetitivos que parecem estar num labirinto escuro e sem saída, a maioria. White Stripes e Arctic Monkeys fazem shows arrebatadores, mas o primeiro funciona muito melhor que o segundo em disco. Os dois são exceções. The Racounters, com um som nitidamente setentista, é muito legal e prepara seu segundo disco.  Muita gente, como o Luiz Calanca e o Jacques, do Kaledoscópio, apesar de acharem o Myspace genial - e é mesmo porque democratizou a produção e divulgação de bandas e artistas - diz que essas ferramentas são uma faca de dois gumes, entenda-se



                                                            
                                                                  
Ouvi o Radiohead In Raiwbons a exaustão e, apesar do disco ser bacana, não acho que se justifica tanto oba oba, a não ser pela criativa forma como foi lançado. Muitos músicos brasileiros, e gringos, com quem tenho conversado, afirmam que falta tesão e alma ao novo rock, coisa que tenho dúvidas, mas concordo em parte. É só ouvir o Vanguart pra perceber feeling lá. O mais importante, deixando a qualidade de lado, é saber que cada banda, ou músico, se adequa a sua época. Se o mundo hoje é feito sob uma plataforma de aparências e futilidades, sem muito aprofundamento e com valores que são mensurados por parâmetros duvidosos, porque a música atual seria diferente desse modelo? "Em tempos de mesmice", como diz o maestro Júlio Medaglia, "a música é linear e de fácil digestão". Não acho que isso seja ruim, e que toda música deva ser complexa, mas qualidade é fator básico. Porém, é muito chato ver bandas abusando de compressores e delays para compensar a falta de qualidade. Nesse ponto, os grupos brasileiros mostram mais opções, criatividade e soluções. O que mais me pergunto quando ouço novas bandas é: Onde estão os solos de guitarra que pegam na alma? Alguém fará uma nova Watermelon In Easter Hay? Ou, ao menos, algo com a mesma fúria intensa, doce e sensual? Alguém ai conhece Watermelon In Easter Hay?

            

by Cleber Souza .

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