Para pensar a violência no Rio de Janeiro e os últimos acontecimentos referentes a ela, é necessário pensar a situação para além do bang-bang midiático. O que vemos na TV e nos comentários cotidianos do senso comum é a superficialidade maniqueísta da questão, ou seja, uma visão redutora que coloca a situação como a luta da "bandidagem" contra a "sociedade".
No entanto, a questão é muito mais complexa do que uma briga de vilão e herói (traficante contra policial, ou Estado contra tráfico). O tráfico de drogas não pode ser pensada como um poder paralelo, colocada contra a sociedade, pois a criminalidade faz parte do sistema social que vivemos. Com o tráfico muitos "ganham": os playboys, artistas e universitários viciados que saciam sua sede por drogas, a polícia corrupta que ganha dinheiro com o "arrego" dos traficantes, os comerciantes do tráfico que lucram com a venda do tóxico, os traficantes de armas que ganham rios de dineheiro a cada "bala perdida ou achada", os políticos corruptos que estão envolvidos até os ossos com a violência, e também o sistema capitalista como um todo, pois para ele é muito mais interessante desviar os pobres para a criminalidade egoísta do que engajá-los na luta política para mudar o sistema social injusto e desigual que vivemos.
Parece que hoje, com os interesses de grandes empresas na realização da copa do mundo e olimpíadas um "acordo" que durava anos foi quebrado. A polícia agora precisa ocupar as comunidades que se localizam na área do "Rio olímpico", ou seja, áreas que serão utilizadas nos acontecimentos esportivos dos anos que se seguem. Devido a isso o tráfico organizado perdeu o controle de algumas comunidades que geravam muito lucro e muitos bandidos tiveram de migrar para comunidades periféricas da cidade. Para o tráfico existe agora um problema duplo: 1. uma perca de dinheiro enorme 2. a situação de excesso de traficantes por comunidade (é muito traficante para pouca boca). Resultado um levante da criminalidade para reverter ou amenizar suas percas.
Para fazer frente a "rebeldia" dos traficantes estamos vendo uma mega operação policial e militar que é coberta pela mídia como uma cruzada conta o mal.
O que esperar desta situação dramática que o Rio esta enfrentando? Com certeza não vamos ver a vitória do herói contra o vilão, pois não há herói real nessa história. Apenas o interesse financeiro de traficantes e mega empresários envolvidos com copa e olimpíadas.
O mais provável é a realização de um novo acordo depois de um derramamento de sangue que conterá a rebelião dos dos incomodados com a nova situação. Neste acordo será previsto a "pacificação" dó Rio olímpico e áreas nobres da cidade, e também a restrição da criminalidade nas áreas periféricas da cidade (zona norte, zona oeste, baixada). Podemos pensar nisso como um varrer o "lixo social" para de baixo do tapete, ou melhor, para longe dos turistas e áreas nobres da cidade.
Quem ganha com isso tudo, mais uma vez é o capitalismo e o interesse de peixe grande.
6 Comentários
A parada é esperar pelo lançamento do ano:
ResponderExcluirCall of Duty:Rio De Janeiro Warfare
"Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio." L. E. Soares
ResponderExcluirMe responde uma coisa, se você tivesse sem emprego, ia dar o cu pra ganhar dinheiro? não, porque não é certo. Então porque entrar pro tráfico, se também não é certo?
ResponderExcluirTemor pederástico costuma estar associado a homossexualismo não assumido. Rsrs
ResponderExcluirQue noção mais "avançada" de certo e errado hein. rsrs
ResponderExcluirL.E.Soares
ResponderExcluirRealmente é bem coerente seu pensamento. Porém a "coisa" da forma que está dá lucros para muita gente que não vai querer "largar o osso".
Nas áres nobres da cidade UPP e uma "pacificação" pode até ocorrer. Mais na periferia da cidade é bem difícil isso acontecer, a polícia não teria contingente para manter uma ocupação em toda cidade.
O mais provável é que o tráfico organizado da forma que é seja empurrada para a zona norte, oeste e baixada.
Restringir este tipo de tráfico na periferia da cidade e manter a área nobre superficialmente pacificada parece ser o objetivo disso tudo.
Os países tidos como desenvolvidos (centrais) jogam seu "lixo social" nos países periféricos (por exemplo, os USA no méxico). A lógica do Estado aqui é a mesma. O poder central empurrando sua sujeira para a periferia.
Pode até ser que estamos saindo do "fordismo do tráfico", mas esta saída vai ser gradual. E muitas partes da cidade vão se conservar antiquadas até que grandes interesses econômicos queiram ao contrário. Por enquanto, estão varrendo o "lixo" para debaixo do tapete.