Violência no Cine Ideal - Denúncia

Segue aqui a denuncia de uma amiga que foi vitima de violência e preconceito em uma boate no Centro do Rio:

Quero fazer, aqui, uma denúncia de violência sofrida e ao mesmo tempo mobilizar pessoas que tenham passado por situação semelhante à minha. Peço que leiam atentamente o breve relato que segue abaixo.

Dia 03 de Abril de 2011 eu estava na área VIP do Cine Ideal, uma boate GLS no centro do Rio, por volta de umas 5 horas da manhã, dentro do banheiro feminino procurando por uma amiga. A vigilante do banheiro se incomodou com a minha presença e pediu que eu saísse do banheiro. Respondi que sairia assim que soubesse se minha amiga estava lá dentro ou não, daí ela ameaçou chamar os seguranças e eu nem me preocupei porque sabia que não estava fazendo nada de errado. Quando verifiquei que minha amiga não estava lá dentro, saí do banheiro, mas a vigilante já havia chamado os seguranças. E não teve diálogo! Eles já chegaram colocando a mão em mim e dizendo que eu estava expulsa da boate. Tentei argumentar que tinha pago caro pra entrar naquele lugar e tinha, pelo menos, o direito de saber o que eu tinha feito de errado para ser expulsa. Mas quanto mais eu tentava falar mais eles me agarravam e seguravam. Daí, comecei a me debater e tentar me soltar, lembro que até falei que eles não precisavam colocar a mão em mim, que se eles me dessem um motivo plausível eu sairia sozinha. Mas acho que os seguranças de lá não estão acostumados a conversar, parecia que quanto mais eu falava mais eles ficavam revoltados. Aglomeraram vários seguranças ao meu redor, entre homens e mulheres. Tenho testemunhas de pessoas que foram à boate comigo e viram tudo! Eles só conseguiram me expulsar, efetivamente, quando um dos seguranças me deu uma gravata e me arrastou (literalmente) escada abaixo, me empurrando para fora do recinto. Nisso tudo perdi meu relógio, minhas sandálias também ficaram destruídas (tive que voltar descalça para casa!). Saí cheia de marcas, entre hematomas e arranhões, nos braços, principalmente. Do lado de fora liguei para o 190, mas parece que a boate também ligou. Somente depois que estava na delegacia a minha ficha começou a cair... soube que era comum aparecerem pessoas do Cine Ideal denunciando agressão sofrida lá. O procedimento feito naquela madrugada, na delegacia, parecia ter sido ensaiado. A viatura quis levar uma segurança (feminina) para a 5ª DP, e mesmo eu tendo falado que não havia sido ela quem tinha me expulsado de fato e me dado uma “gravata”, eles não mudaram de posição. Mandaram que eu ficasse quieta e entrasse na viatura. Quando chegamos à delegacia prestamos depoimento e peguei encaminhamento para corpo delito. Fiz tal exame. Acho que a homofobia teve peso nessa forma de tratamento. Fui tratada desta forma por discriminação, já que, imagino que se fosse em uma boate “hetero”, não iriam me expulsar na base da força bruta somente porque estava dentro do banheiro feminino procurando minha amiga. Quem freqüenta o espaço GLS sabe que boa parte das casas/boates tem infra-estutura precária, assim como a segurança, além do péssimo atendimento. As pessoas gays e lésbicas, ao não terem escolha/variedade de lugares para ir (lugares onde elas possam ficar à vontade e demonstrar seu afeto), tem que se submeter a abusos como esse. Fui vítima dessa violência, desse descaso, desse tratamento, como se eu fosse um animal, ou uma aberração. Há um RO na 5ª DP, com informações inverídicas, que não me favorecem. Fui na DEAM e prestei outra queixa. Fui também ao Centro de Referência contra Homofobia, Intolerância Religiosa e Discriminação, localizado no prédio da Central do Brasil. Pretendo mover uma ação judicial contra o Cine Ideal.

Dessa forma, criei esse grupo com o objetivo de mobilizar e contatar pessoas que tenham presenciado e/ou sofrido violência semelhante no espaço do Cine Ideal. Temos que nos mobilizar para chamar a atenção do público para essa questão. É inaceitável que as pessoas gays e lésbicas sejam oprimidas em seu próprio espaço! Peço que divulguem para os conhecidos para conseguirmos nos mobilizar!

Grata,

Luciana Cariello.

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