Manual de "Aulas Bomba". Por uma greve inteligente.

Muito se fala do professor como formador de opinião, ou melhor dizendo de pensamentos. Baseado neste entendimento proponho aqui um novo tipo de ação de reivindicação para este tipo de trabalhador, a "aula bomba".

Para todos aqueles que não acreditam na Greve como meio eficiente de ação na área da educação, temem cortes de salários devido as paralisações, ou queiram tentar um tipo não tradicional de ação política por qualquer outro motivo a "aula bomba" é uma opção.

No que consiste a aula bomba? A "aula bomba" é uma estratégia onde utilizamos o tempo de trabalho que temos em sala de aula para conscientizar os nossos estudantes sobre os problemas que existem na educação e suas relações com os governos responsáveis. É uma forma de atingir a subjetividade dos estudantes que trabalhamos e de todos que estão próximos a eles, garantindo que nossa luta rumo a melhoria da educação ganhe a simpatia da sociedade começando pela comunidade escolar que nos cerca.

Quais são as vantagens da "aula bomba"?
Garantimos uma forma alternativa de ação, menos vulnerável a coerções materiais que partam das autoridades. Por exemplo: o governo não pode cortar nosso salário, pois estamos em sala de aula em nosso horário de trabalho. Ele também não pode nos ameaçar com reposição de aulas em período de férias, já que o calendário de aulas está sendo cumprido.

Com a "aula bomba" também somos mais eficientes no que se refere ao apoio da sociedade as nossas causas. O governo e a imprensa empresarial que normalmente funciona como sua porta voz rotineiramente conseguem jogar a sociedade contra o professor, através do argumento de que com greve o prejudicado é o aluno que acaba ficando sem aula. Com a "aula bomba" vencemos este argumento, já que estamos dando aula. Além disso com "a aula bomba", ao contrário do que acontece nas greves tradicionais, não estamos distantes da comunidade escolar. E por isso não deixamos nossos estudantes e todas as pessoas que os cercam expostos unilateralmente as informações que chegam da imprensa empresarial ou de professores "fura greve" que costumam ser mais conservadores. O que nos favorece na luta por corações e mentes, já que   desta forma temos a oportunidade constante de demostrar nosso ponto de vista sobre a luta na educação a nossos formados e todos que os cercam.

Como fazer para dar uma aula bomba?

A conversa direta nos é um direito, então podemos tirar algum tempo de nossa aula para informar e discutir com nossas turmas sobre educação e governo. Porém temos de garantir também algum conteúdo frente a cobrança dos mesmo que inevitavelmente partira das direções e órgãos superiores. Nos blindar.

Em todas as disciplinas e em qualquer colégio podemos dar uma "aula bomba" rica. Na área de humanas é mais simples, pois podemos associar os temas geopolíticos, históricos, sociológicos e filosófico a realidade atual.

Exemplos:

Em Geopolítica discutir o planejamento do espaço urbano e todas as "lambanças" feitas pelo governo. Um exemplo mais específico. No caso do Rio, discutir o tratamento desigual dado pelo governo as regiões da cidade. Explicando porque a zona sul é muio melhor tratada que a baixada. Revelar casos notórios de acontecimentos que prove este tratamento diferenciado (um exemplo, demostrar a diferença numérica de números de espaços culturais nestas duas regiões).

Em História podemos relacionar fatos históricos passados a acontecimentos presentes. Por exemplo, a reforma da cidade no Rio antigo a reforma atual. Suas consequências perversas a população de ontem e de hoje.

Em Sociologia podemos analisar politicamente os governos e seus comportamentos repressivos e antidemocráticos. Demostrar também como a indústria cultural esta presente para desqualificar a luta dos trabalhadores.


Em Filosofia, relacionar a morte de Sócrates e a atitude crítica a repressão dos governos a quem o critica atualmente.

Em disciplinas pedagógicas, Artes e na área das exatas também podemos dar uma aula bomba.

Em Artes podemos trazer exemplos e trabalhar com charges contra o governo.

Na área pedagógica podemos discutir diretamente os problemas da educação.

Mesmo que mais indiretamente, podemos sim dar uma "aula bomba" na área da exatas. Podemos utilizar como fonte de cálculos o valor de obras públicas, afim de revelar o gasto orbitante do governo em "elefantes brancos". Ou mesmo usar como fonte de calculo o salário e benefícios dos vereadores, deputados, vereadores e governadores. Afim de demostrar como os parlamentares ganham rios de dinheiro em um país que sempre se afirma que não existe verba para educação.


Use material áudio-visual.

No mundo tecnológico que vivemos a formação se relaciona inevitavelmente com as mídias. E precisamos saber utiliza-los se realmente queremos atingir os estudantes de hoje. Por isso, os recursos de mídia devem ser utilizados na prática da "aula bomba". Existem muitos vídeos, músicas, blogs e sites que podem nos dar um ótimo suporte para lecionar de forma "explosiva".

Vou sugerir alguns materiais para a Greve do Estado do Rio de Janeiro (estarei atualizando diariamente):

Uma lista de filmes críticos ao Estado.

  • Muito além do cidadão Kane (Filme que demostra a parcialidade da imprensa empresarial) para baixar

  • Tropa de Elite 2 (Filme que aponta um grande problema na questão da segurança do RJ) para baixar
  • UERJ Ocupada (Filme que mostra os problemas e a luta dos estudantes na UERJ) para baixar
  • Entre muros e favelas 
  • Atrás da porta
Guerreiros Urbanos

Vídeos online.

Trabalhos do cartunista Latuff como suporte imagético.

Para que as aulas bombas tenham efeitos é preciso organização e coletividade.
A aula bomba em si não se completa. É preciso lembrar que junto as "aulas bombas" é necessário fazer mobilizações de rua, atuações nas redes de informações alternativas (youtube, blogs, emails) e sobretudo organização coletiva. O que nos dá força é a coletividade e as redes que conseguimos construir para expressar nossas reivindicações. Portanto não se isole, a luta acontece na escola e fora dela. Se una a outros professores, divulgue seu trabalho. 


Vamos a luta!
Fazendo nossas escolas, verdadeiras escolas de crítica.

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2 Comentários

  1. + sugestões de filmes:

    * A Doutrina do Choque (Naomi Klein)
    http://www.download-filmes.org/baixar-filme-doutrina-choque-rmvb-legendado/

    * Diário de Classe (Luiz Claudio Lima)
    peça em: cineclubesuburbioemtranse@gmail.com

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  2. Boa Labanca, vou adicionar. Vou adicionar uma parte sobre simbologias também. Estar em salas com camisas que remetam a luta, incorporar símbolos de luta como os bombeiros fizerem com a cor vermelha. Estas ações merecem um tópico no manifesto já que contribuem em muito com o levante de subjetividades.

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