Caso exista vida
inteligente fora de nosso planeta, organizada socialmente a ponto de
desenvolver tecnologias capazes de fazer esta alcançar a terra. Como
deveríamos lidar com estes visitantes, temer ou se aproximar?A
título de curiosidade, gostaria de contrapor duas visões opostas e
inusitadas sobre este tema: a possibilidade do contato da raça
humana com civilizações alienígenas e suas consequências.
Por um lado
temos a posição de Stephen Hawking, um dos mais conhecidos e
importantes cientista da atualidade. Que além de uma vasta obra
sobre física, costuma participar de discussões mais “abertas”.
Recentemente chamou atenção, por se colocar do lado palestino
frente ao confronto deste com o estado de Israel. Também há pouco
tempo, em uma série de vídeos sobre ciência e “futurologia”,
Hawking apresentou sua visão sobre o tema civilizações
extraterrestres.
De outro lado
temos uma concepção “oriunda” de um setor do pensamento
comunista, atribuída ao que ficou conhecido como posadismo.
Movimento organizado em volta das ideias de Juan
R Posadas
que se consolidou na 4 ° internacional comunista (uma dissidência
da linha comunista tradicional que aglutinava partidos comunistas
centralizados de todo mundo). Tal movimento chegou a ser bem forte
décadas atrás, e ainda hoje se mantém vivo. Não é difícil achar
referências aos posadistas dentro dos debates de esquerda. Um
exemplo mais recente e peculiar a se apontar seria referências em
falas do recém falecido presidente Hugo Chávez, justamente no que se
refere a discussão da vida fora da terra.
Tanto para Hawking,
quanto para “os Posadistas”, a existência de vida inteligente
fora da terra é uma possibilidade. Para Stephen Hawking a existência
de vida inteligente fora de nosso planeta, organizada de forma a
possibilitar a vinda destes seres até a terra indicaria alto grau
de avanço tecnológico. Pois só uma tecnologia extremamente
avançada, muito para além da terrestre possibilitaria a chegada
destes alienígenas em nosso planeta. Dado que com nossa tecnologia,
nos limitamos a viajar distâncias insignificantes no espaço
gigantesco. Uma barreira para acessar galáxias e realidades
distantes onde tais seres poderiam viver.
Segundo Stephen
Hawking “só precisamos olhar para nós mesmos para ver como
a vida inteligente pode se desenvolver e resultar em alguma coisa que
não gostaríamos de encontrar”. Ainda sobre os extra-terrestres
ele diz: “Eu os imaginava viajando em naves robustas, depois de
terem esgotado todos os recursos naturais de seus planetas de origem.
Alienígenas tão avançados talvez pudessem ter se tornado nômades,
tentando conquistar e colonizar qualquer planeta que encontrassem”.
E concluí que “se alienígenas nos visitarem um dia, eu acredito
que o resultado seria muito parecido com o que aconteceu quando
Cristóvão Colombo pisou em terras da América, o que não foi muito
agradável para os nativos americanos”
Seu pensamento defende que é uma tendência
histórica que as civilizações mais avançadas tecnologicamente
(humanas ou não humanas) quando em contato com outras civilizações
menos avançadas, acabam por subjugar estas, para se apropriar de
recursos naturais de seus territórios. O que muitas vezes representa
o extermínio dos subjugados. Logo, ao entrar em contato com
alienígenas mais avançados do nos mesmos correríamos sério perigo.
A ameaça de contato com um imperialismo espacial onde raças
alienígenas super avançadas em tecnologia viajariam de um canto a
outro, consumindo mundo após mundo. Tal como os processos de contato
de Estados nações que se encontrariam em situação de
desproporcionalidade tecnológica em nosso planeta.
Em uma “possível interpretação marxista”,
uma civilização alienígena mais avançada do que a raça humana em
termos tecnológicos seria resultado de um desenvolvimento material e
histórico muito avançado. Ou seja, a forma que estes seres se
organizariam em relação ao trabalho e a sociedade teria se
desenvolvido mais do que a forma humana. E é justamente pelo avanço
das forças produtivas e mudanças nas relações de produção que
se possibilita que os modos de produção se modifiquem. Logo, tais
criaturas poderiam ter transcendido o capitalismo, um sistema de
exploração do homem pelo próprio homem, rumo a um modelo de
sociedade mais avançado. Junto a isso, superado também fenômenos
referentes as necessidades deste sistema. Já que mudando as bases
econômicas da sociedade, também se altera a sua superestrutura
(cultura, política, ideologia, moral e etc). Logo a tendência a um
consumo desenfreado irracional e uma visão belicista da realidade
provavelmente estariam superados. Prosseguindo nesta interpretação,
poderíamos imaginar que alguma parte da vida extraterrestre estariam
em um modo de produção seguinte ao capitalismo, por consequência,
o modo de produção comunista. E um contato com estas vidas
alienígenas mais avançadas não seria algo ruim. Já que estes
seres coletivistas e solidários só tenderiam a contribuir com a
humanidade, ainda presa a um sistema de egoismo, irracionalidade,
violência e consumo desenfreado.
Diante esta dualidade interpretativa o que pensar?
Em termos de possibilidade a priori, acredito não poder negar a
existência de qualquer tipo de “sociedade” alienígena. Seja ela
“predatória imperialista” ou “solidária comunista”. No
entanto, vale a pena aqui problematizar ambas argumentações.
Primeiramente, podemos dizer que Stephen
Hawking se fragiliza ao partir de uma realidade história e material
estática. Não podemos afirmar que qualquer civilização seja, ela
terrestre ou alienígena terá de se comportar seguindo padrões de
modelos econômicos, sociais e culturais que conhecemos. A politica
imperialista e a limitação de se tratar com os recursos naturais
finitos de nosso planeta são problemas dos dias de hoje da
humanidade. Em algum momento estes padrões podem ser superados
diante o avanço de nosso desenvolvimento histórico e material.
Fontes de energia e recursos eficientes e renováveis podem ser
descobertas e socializadas. A necessidade de consumo desenfreado,
motor do imperialismo, pode ser substituída por outros valores e
comportamentos sociais de uma sociedade a por vir. Precisamos olhar
para além dos limites dados pelo capitalismo predatório em que
vivemos se quisermos enxergar todas as possibilidades para o futuro e
realidades distintas da nossa.
Em relação a
relatada concepção “mecanicista materialista” de vida
extraterrestre, os problemas de argumentação se encontram nas
determinações mecânicas que lhe sustenta. Uma visão materialista
mecanicista, também poderia levar a equívocos gigantescos. No caso,
a crença de que uma civilização só poderia desenvolver-se segundo
um modelo linear similar ao que conhecemos, e que os fenômenos de
superestrutura seriam exatamente correlacionáveis aos modos de
produção pre-determináveis do mundo humano. Ou seja, seria muito
complicado acreditar que civilizações avançadas tecnologicamente
deveriam estar necessariamente em um modo de produção coletivista
de alto grau de avanço ético e político. Porque não poderia
existir civilizações alienígenas que se desenvolveram
tecnologicamente, cultivando valores belicistas e predatórios
seguindo processos distinto do terrestres? A realidade de outros
planetas seriam outra. O seu mundo natural, a biologia das espécies,
e consequentemente a história. Seria muito complicado querer resumir
todas as possibilidades de desenvolvimento histórico, material,
moral e cultural a algo similar ao que conhecemos.
Me inclino a
acreditar em uma maior possibilidade, de que um grande avanço
tecnológico de alguma forma tenda realmente a ser paralelo a um
avanço moral e cultural. O que dificultaria o aparecimento de
sociedades alienígenas saqueadoras de recursos naturais. Penso que o
avanço tecnológico levaria a uma superação da simples necessidade
de consumo desenfreado por recursos naturais finitos, e devido a
isso dificultaria o aparecimento de nômades saqueadores de planetas.
No entanto, creio que sobre o tema de contato com vida extraterrestre
podemos esperar de tudo. Até mesmo uma surreal “guerra fria”
entre um império de exploração estrelar contra uma coalisão de
coletivistas intergaláticos. Se tivesse que escolher com que
civilização topar primeiro. Com certeza optaria pelos coletivistas
intergaláticos e não com qualquer raça imperislista estrelar.
Pois, já basta os exploradores de nossa própria espécie.
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