CIDADE DE DEUS 10 ANOS DEPOIS

Hoje o Festival do Rio nos presenteou com uma grande produção do CAVIDEO PRODUÇÃO, o filme Cidade de Deus-10 anos depois.

O INÍCIO

Antes da abertura do filme o diretor Cavi Borges convidou ao palco do Cine Odeon, o Sindicato dos Profissionais de Educação, que expuseram em  valiosas palavras um pouco do que está sendo sua grande batalha, após a fala, os professores retornam aos seus lugares para curtir ao filme, ao som de aplausos e um coro uníssono da platéia que cantava – “ O profesor é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo.”.

Assim começou a exibição, em meio a aplausos aos professores e vaias ao governador e prefeito.
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O FILME

Cidade de Deus 10 anos depois é um grande presente, e propõe a nós um momento de desconstrução do que foi o Cidade de Deus; retratando através das histórias de vida dos atores do filme, o CDD10 Anos depois nos brinda com uma série de histórias de caminhos distintos, traz questões inquietantes a respeito da precarização da profissão, da sustentabilidade da vida como artista, delimita contradições que nos levam a pensar: - Como um filme de milhões não foi tão transformador na vida dos seus atores?

O filme apresenta diversos momentos de climax, recorto aqui dois deles: O encontro entre o Seu Jorge e um dos atores, Seu Jorge bem hospedado no hotel Marina no Rio de Janeiro, e o jovem ator trabalhando de ascensorista do mesmo hotel, outro momento interessante é  referente a declaração de outro jovem ator, que um dia após voltar de Cannes, após comer do bom e do melhor, dormir em hotel cinco estrelas, andar em carros de luxo, retorna ao Brasil para seu mesmo barraco com sua mesma goteira e chora.

No todo, o CDD 10 ANOS DEPOIS,  faz um belo retrato da realidade do trabalhador de cinema, jovens atores que ganharam em média 4.000 reais (segundo os próprios atores)  e que enfrentaram dificuldades em se manter na nova profissão, os discursos mostram como, enquanto para alguns poucos o filme foi uma porta aberta para novos trabalhos, para outros foi um estigma a carregar, dede o jovem que foi preso, ao vendedor de amendoins. O filme quetiona a aceitação do negro e favelado no meio da dramaturgia, uma dificuldade enfrentada pela maioria dos atores do Cidade de Deus ao tentar seguir a carreira. 

Desde o despreparo de alguns dos mais jovens para lidar com a mudança brusca em suas vidas, até um olhar mais amplo da precarização do trabalho, o filme Cidade de Deus 10 ano após, encerra deixando em aberto a relação de arte – ofício – renda,e nos lança a pergunta: - É possível viver de arte? - É possível para a arte mudar a vida das pessoas?  

Cada fala nos trás a sensação de como uma obra prima de nosso cinema, com uma proposta revolucionária de filmar na favela e com atores da favela; que vendeu milhões mundo a fora, não conseguiu modificar plenamente a vida da maioria dos seus atores. A arte e o entretenimento, sempre apresentados pela sedução de toda a publicidade envolvida neles, vendendo a muitos a idéia de uma saída, um futuro ou uma conquista de fuga de seu padrão de vida para um padrão melhor, é desmontada a cada fala, cada realidade mostrada na voz de cada jovem. 

Cavi Borges nos presenteia assim com uma obra prima da arte documental, um filme que pode ser debatido politicamente, artisticamente e academicamente.  e permite em sua exibição tanto ao vivo com a palavra aberta ao sindicato de educação, como na Tela com seu filme Cidade de Deus 10 anos depois, por na mesa toda a discussão da exploração e precarização dos trabalhadores, sejam de educação sejam de cultura.  

Recomendamos muito o filme.

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