Impasses e limites do Fora Bolsonaro.

    

Recentemente as coisas ficaram bem ruim dentro da militância no rio de Janeiro, e divergências acabaram por ter como desfecho embates físicos no último ato do dia 24. É evidente que ficar rendendo as birras dentro das lutas sociais é um tiro no pé, que sempre leva a um prejuízo generalizado a luta. Mas tentar entender o contexto e os fundamentos das desavenças é uma tarefa importante, justamente para poder apontar para a superação das mesmas. Sendo assim, me parece que algumas coisas são evidente neste momento.
 
Os atos Fora Bolsonaro que acontecem com certa constância estão contidos em uma bolha de afinidades e projetos, neste sentido atingiram o seu máximo de potencial e alguns estão bem felizes com isso. Pois a intenção da hegemonia da esquerda organizada não é derrubar o presidente, mas sim criar desgaste e fazer palanque para a eleição dos seus candidatos. Sobretudo para seu mito particular, o ex-presidente Lula. Um jogo extremamente perigoso, mas que estes setores vão bancar jogar de forma acrítica até o final. Se algo der errado, vão terceirizar a "responsabilidade" como fizeram em 2018.
 
Por outro lado temos grupos mais autônomos que desejam levar a luta contra o presidente a outros patamares (a sua derrubada imediata ou a desfechos mais radicais). Estes estão bem enfraquecidos no momento e tem dificuldade de "colocar na cabeça" que terão que superar determinados "dogmas" fomentados a partir de 2013 período que eram hegemônicos. Caso contrário é um "beco sem saída".
O choque entre estes dois campos se tornou inevitável, pois de um lado temos partidos que jogam com toda força para não perder a hegemonia e controle centralizado das ruas, mesmo que isso signifique asfixiar e limitar a luta. Por outro temos grupos que almejam justamente a quebra deste controle, para poder direcionar a luta para outras direções.
 
Não sei muito bem o que poderia funcionar para fazer as coisas avançarem para além deste impasse. Mas uma coisa é certa, enquanto o impasse durar quem sai vencedor é quem deseja segurar o presidente sangrando até as próximas eleições (lembrando do risco real e constante de reversão da sangria, e de refortalecimento ou blindagem de Bolsonaro que fariam todos perder no final).
 
Quem almeja mais do que isso neste momento é que precisa investir contra o impasse.
A queima da estátua em SP foi um ato simbólico incrível, que trás novos elementos pro tabuleiro. Pode indicar alguns horizontes ligados a potencialidade da luta decolonial e periférica para animar as coisas. Atos puxados pelos "independentes" seria o caminho? Sinceramente não sei. Mas me parece um tiro no pé para os mais autônomos continuarem engrossando estes "atos palanques" com bonecões gigantes de candidatos que não pretendem ser mais do que estão sendo. Inclusive é um tremendo gasto de energia estas tretas dentro deste tipo de evento.
 
Para quem ainda quer derrubar o presidente de extrema direita por acreditar que devemos agir dentro de uma janela de vulnerabilidade, é hora de usar a inteligência política para pensar e superar o cenário de mobilização e lutas que temos colocado. Pois só assim será possível ir além do morno e do teatral.


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