banco social e economia solidária

Hoje deixarei postado aqui algo de muito interessante que encontrei,  os conceitos básicos de criação de um banco comunitário. O texto original pertence a Naná Prado, foi escrito no site www.akatu.org.br sob o título Como criar uma moeda social e um banco comunitário.
Segue-se o texto original:
Como criar uma moeda social e um Banco Comunitário
Por Naná Prado, do Instituto Akatu
O coordenador do Núcleo de Economia Solidária (Nesol) da USP, Diogo Tsukumo, divide esta metodologia em 4 fases:
1. Identificação
Nessa fase são realizados estudos, diagnósticos e visitas aos municípios ou comunidades para certificar que o local reúne as condições necessárias para organização de um Banco Comunitário. Dentre outros, são observados os seguintes aspectos:
a) presença de uma organização local/comunitária, interessada em desenvolver e gerir as ações de um Banco Comunitário;
b) compromisso do poder público local, universidade e iniciativa privada, em apoiar a implantação do Banco;
c) existência de grupos produtivos locais e de empreendimentos econômicos solidários; e
d) existência de rede telefônica instalada no município/bairro (serviço necessário para o funcionamento de caixa eletrônico).

2. Preparação
Consiste no processo de sensibilização dos moradores, produtores e comerciantes do município/comunidade, bem como a capacitação dos agentes e gerentes de crédito. Considerar nessa etapa eventos de capacitação (oficinas, cursos e treinamentos), distribuídas ao longo do período desta fase. Apresenta as seguintes etapas:
a) reuniões com a comunidade, o governo local, e outros parceiros locais objetivando ouvir suas expectativas, negociação de apoio e definição da contribuição de cada um para a constituição de Banco Comunitário;
b) oficina de sensibilização com técnicos da entidade que apoiará o Banco Comunitário e comunidade, momento em que serão abordadas noções de desenvolvimento local e Economia Solidária;

c) oficina das experiências de outros bancos, apresentando o estágio de desenvolvimento alcançado pela comunidade;
d) oficina sobre economia solidária para oferecer aos moradores noções sobre como organizar coletivamente redes de produtores e consumidores locais, remontando cadeias produtivas e criando instrumentos de Economia Solidária
e) oficinas práticas sobre o mapeamento da produção e do consumo local; e
f) curso de agente e gerente de crédito, quando serão treinadas pessoas da comunidade para atuarem como agente e gerente de crédito.


3. Implantação.
Após o processo de sensibilização e capacitação, iniciam-se os preparativos práticos para o funcionamento do banco, destacando-se;
a) oficina de planejamento do Banco Comunitário para determinar o funcionamento do Banco, nome, produtos, gestão, parcerias e outros;
b) oficina de treinamento da equipe do Banco Comunitário e criação dos instrumentos de gestão (formulários, fichas de cadastro, definição de política de juros, sistema de aval, analise do crédito e outros);
e) preparação e edição do material gráfico sobre o Banco Comunitário e a Moeda Social Local;
f) cartaz, folder, convite, impressão das moedas sociais e outros; e
g) lançamento do banco e assessoria à equipe de gestão por três meses.


4. Consolidação
Nessa fase os Bancos Comunitários precisam consolidar suas atividades e superar dificuldades apresentadas ao longo do processo inicial. São realizadas ações de:
a) consultorias especializadas e focadas;
b) reuniões com o poder público local;
c) articulação com novos parceiros;
d) cursos de aperfeiçoamento para os agentes e gerentes de crédito, produtores locais e consumidores;
e) aperfeiçoamento nos conhecimentos e nas práticas desenvolvidas no banco; e
f) campanhas para divulgar as ações do banco e seu impacto na comunidade.




Moradores locais gerenciam os bancos comunitários, que trocam o “dinheiro” por reais
Por Naná Prado, do Instituto Akatu
Todos nós conhecemos o dólar, o real, o euro. Mas, você já ouviu falar em apuanãs? E freires, sampaios, vistas lindas ou moradias em ação, você conhece? São as cinco moedas sociais aceitas pelo comércio de algumas comunidades da cidade de São Paulo desde meados do ano passado. Isso significa que em alguns bairros a moeda preferencial deixou de ser o real.

No Jardim Filhos da Terra, na zona norte, os comerciantes passaram a aceitar os apuanãs. No Jardim Maria Sampaio, na zona sul da capital, a moeda que circula é o sampaio. Os freires são aceitos no Jardim Inácio Monteiro, na zona leste, os vistas lindas são do Jardim Donária, na zona oeste, e os moradias em ação, do Jardim São Luiz, na zona sul.
“A moeda social é muito importante para a comunidade porque faz com que a riqueza do bairro gire nele. Isso ocorre, porque ela é aceita apenas pelos empreendimentos do bairro cadastrados no Banco Comunitário, permitindo a esses empreendimentos fazer a troca da moeda social por real”, explica Diogo Jamra Tsukumo, coordenador do Núcleo de Economia Solidária (Nesol), da Universidade de São Paulo (USP).
Os Bancos Comunitários são projetos de apoio à economia popular de municípios de baixo Índice de Desenvolvimento Humano e prestam serviço financeiro solidário em rede de natureza associativa e comunitária. Além disso, os bancos comunitários atuam para a geração de trabalho e renda promovendo a economia solidária. Os bancos comunitários são da comunidade, que também é responsável por sua gestão.
Tsukumo afirma que a moeda social permite uma maior circulação de riquezas na comunidade, aumentando os números de transações econômicas e permitindo o desenvolvimento econômico local. Neste aspecto, saem ganhando tanto o consumidor morador da comunidade, pois tem acesso ao crédito em moeda social, quanto o empreendimento, pois tem mais clientes.
“Para muita gente da comunidade, esse projeto era um sonho. Agora, cada dia que passa, a gente vê uma melhora na auto-estima de todos”, conta Hilda Pires, gerente do Banco Apuanã, criado em junho de 2009, como parte do projeto Moradia Solidária. Hilda faz parte do Movimento de Moradia Sem Terra da Zona Norte de São Paulo, que conta com o apoio da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP/USP).

Pouco mais de um ano após a criação do Banco Apuanã, Hilda diz confiante que a comunidade está colhendo bons frutos: “hoje temos uma cooperativa de costura em pleno desenvolvimento; uma cooperativa de produtos de limpeza, e, uma vez por mês, realizamos uma feira para vendermos todos os produtos feitos pela comunidade”. Mas, nada disso seria possível sem o Banco Apuanã. “Além do desenvolvimento local, aumentamos a oferta de empregos e, conseqüentemente, a renda dos moradores está aumentando também”, conclui a gerente do banco. 
Em todo o Brasil, existem atualmente 51 moedas sociais. Elas não substituem o real – a ideia é que funcionem de modo complementar à moeda nacional, mas desenvolvendo as economias locais. Para isso, é preciso que tenham lastro em real, ou seja, para cada uma das moedas sociais usadas, deve-se ter “guardada” uma moeda em real. Reconhecidas pelo Banco Central, as moedas sociais precisam, para serem criadas, de comunidades com uma associação de moradores bem estruturada.
Segundo o coordenador do Núcleo de Economia Solidária da USP, a moeda é um instrumento de troca e é interessante potencializar sua circulação e reduzir a ideia de acumulação. “A moeda social cria e resgata a identidade da comunidade, valorizando a produção local e gerando desenvolvimento, em todos os sentidos do termo, em determinada comunidade”, avalia Tsukumo.
A moeda social não impede que um cliente do banco que foi beneficiado com um crédito de consumo (em moeda social) gaste esse recurso em qualquer produto que tenha no bairro. Isso quer dizer que não necessariamente o consumidor precisa comprar algum objeto produzido pela comunidade. Ele pode comprar qualquer produto oferecido no mercado ou farmácia do bairro.
Para o coordenador da USP, o que realmente garante o consumo responsável dos produtos é o processo de formação e transformação cultural que ocorre junto com a implementação de um Banco Comunitário e moeda social. Tsukumo acredita que um processo que envolva campanhas de consumo local e apoio a empreendimentos econômicos solidários seja um caminho interessante para a sustentabilidade e o consumo consciente nas comunidades. Aliando esses pontos ao crédito produtivo e à ação do agente de crédito, os empreendimentos podem oferecer alternativas de consumo aos moradores do bairro.
“O sistema tem ainda uma função de identidade, ou seja, faz com que as pessoas consumam no bairro onde moram, usando uma moeda que tem o nome do bairro”, acredita Tsukumo. Para estimular a população a usar a moeda social, os comerciantes apelam para os descontos. Com isso, o dinheiro passa a ficar na própria comunidade. “Quanto mais dinheiro ficar na comunidade, mais ele vai circular internamente e mais riqueza vai gerando. Quanto mais vezes ele passar de mão em mão, mais se estará gerando valor e riqueza.”
Além dos descontos, para fazer crescer o uso dessas moedas são realizados mapeamentos de consumo e produção para avaliar a necessidade dos consumidores e se há produção suficiente na comunidade para atendê-los. A comunidade também se organiza em fóruns para discutir questões como os juros e as diretrizes dos bancos comunitários na concessão do crédito.
Tsumuko acredita que o potencial de crescimento dessas experiências seja tão grande quanto o número de comunidades existentes no Brasil e no mundo. “Ainda mais agora que o Banco Central, no final do ano passado, criou um grupo de trabalho, por um convênio com a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, para estudar essas inovações, reconhecendo publicamente a importância e o valor dessas iniciativas para o desenvolvimento das comunidades e do país”, argumenta.
Você sabia?
- O primeiro banco comunitário brasileiro foi o Banco Palmas, que surgiu em 1998, no Conjunto Palmeira, bairro da periferia de Fortaleza. Em 2003, a comunidade se organizou e criou o Instituto Palmas, que hoje é responsável pela abertura da maioria dos bancos comunitários existentes no país, entre eles, os de São Paulo. A expectativa para os próximos dois anos é de que sejam criados mais 100 bancos comunitários em todo o Brasil.
- O Ceará é o Estado que mais concentra as moedas sociais. Em municípios pequenos, elas valem na cidade toda. É o caso de Acaraú, Tamboril e Paramoti.
- As moedas sociais também existem em outros países. Na Argentina, chegaram a atingir quase 1 milhão de pessoas, após a crise econômica de 2001.

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os dois textos são creditados a Naná Prado, postados no akatu.org

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